O varejo e um Instagram para chamar de seu
- Heitor N Simão Jr
- Aug 26
- 2 min read
A era do varejo previsível acabou. Aquela experiência linear, com gôndolas físicas e promotores tentando capturar atenção, foi pulverizada por algo infinitamente mais poderoso: a inteligência artificial em um feed sem fim. Agora, não existe mais vitrine, existe um scroll eterno. Não existe mais gerente definindo preço, existe um agente autônomo, invisível, calculando cada variável em tempo real para que você compre sem sequer perceber a engenharia por trás da decisão.
Esses agentes sabem tudo. Sabem quanto você pode pagar, quanto costuma gastar, qual o limite do seu impulso antes do arrependimento, e até quais produtos estão sobrando no estoque e precisam girar agora. Eles não apenas sugerem — eles orquestram a sua experiência de compra com precisão cirúrgica. O feed não é caótico: é um labirinto desenhado para que você siga sempre na direção do consumo ideal para eles… e confortável para você.
Cada promoção, cada bundle, cada variação de preço é um código rodando no escuro, calibrado para não romper sua percepção de valor. A IA sabe qual é o seu ticket médio histórico e não ousa passar um centavo além — pelo contrário, cria ofertas que parecem oportunidades únicas, mas são algoritmos de maximização de margem. É psicologia aplicada em escala industrial, mediada por dados que você entregou sem ler os termos.
E o mais impressionante: essa IA não trabalha isolada dentro da sua loja favorita. Ela observa o comportamento da audiência inteira: a sua, a da rede concorrente, a de players globais. Ela aprende padrões, compara tendências, ajusta narrativas. Antes, cada loja era um universo físico; agora, todas são pontos conectados em uma teia neural que entende o que funciona no varejo como um todo — e aplica isso na sua tela antes mesmo de você saber que queria aquilo.
A loja física, ainda pode ser um palco de experiências, onde antes era apenas mais uma fonte de dados. A audiência, antes anônima, virou legível, rastreável, previsível. Cada passo, cada toque, cada olhar é um sinal para um modelo que reescreve a sua jornada de compra em tempo real. Você não está apenas comprando — está interagindo com um organismo vivo, um feed infinito assistido por inteligências que não erram, não descansam e não têm limites pré-definidos.
O varejo não é mais feito só por pessoas para pessoas. É feito por máquinas para cérebros humanos, para lhes economizar do orçamento ao tempo, programado para manter você orientado, comprando de forma otimizada.
E, no fim, a pergunta que resta é simples: quem ainda escolhe? Você… ou o algoritmo?
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