Money20/20 USA 2025: Pagamentos, Infraestrutura e a Era dos Agentes
- Heitor N Simão Jr
- Nov 4
- 4 min read

O Money20/20 USA 2025 marcou um ponto de inflexão no setor de pagamentos e fintech. Mais do que um encontro de tendências, o evento consolidou a transição de uma indústria que antes “seguia a inovação” para uma que agora a lidera.
Como destacou Tracey Davies, presidente global do Money20/20:
“O Money20/20 USA 2025 refletiu um setor pronto para liderar, não apenas acompanhar.”
A seguir, os principais aprendizados e citações dos líderes que definiram o tom do evento — e o que eles significam para o futuro dos pagamentos, fidelização e shopper insights.
1. Infraestrutura: a nova era da construção
O tempo do hype deu lugar à engenharia de base. A mensagem dominante foi clara: o futuro dos pagamentos depende menos de “novos produtos” e mais de infraestruturas escaláveis e interoperáveis.
Principais implicações:
Os “rails” em tempo real, a tokenização e as stablecoins estão saindo do laboratório e entrando em operação.
Dados de shopper, finanças embutidas e open data tornam-se a espinha dorsal dos programas de fidelidade e personalização.
Para empresas do varejo e de pagamentos, o foco passa a ser “qual é o novo stack”, e não apenas o próximo produto.
2. Tokenização e stablecoins: convergência real
Um dos temas mais discutidos foi a ascensão dos ativos digitais — agora integrados ao centro da conversa sobre pagamentos.
A Kinexys, braço de ativos digitais do JPMorgan, defendeu o conceito de “liquidez sob demanda” via tokenização. Já Raj Dhamodharan, da Mastercard, resumiu:
“A convergência não é sobre competição; é sobre orquestração entre ecossistemas.”
O que isso significa para o varejo e fidelidade:
As carteiras do futuro podem abrigar moedas tradicionais, stablecoins e pontos tokenizados.
Programas de fidelidade tendem a se conectar a ativos digitais, criando novos modelos de valor.
Para o Brasil, o paralelo com o PIX é evidente — tokenização e liquidez instantânea formam a base do novo padrão.
3. Comércio agente e IA: da automação à decisão
A inteligência artificial deixou de ser “ferramenta” e se tornou agente autônomo de decisões comerciais.
Guillaume Pousaz, fundador da Checkout.com, resumiu:
“A IA elimina a vantagem da inteligência assimétrica… vai criar um novo equilíbrio no comércio.”
Avritti Mittal, também da Checkout.com, complementou:
“Precisamos manter a confiança no centro de toda interação entre marca e consumidor.”
Implicações práticas:
Agentes de IA vão definir ofertas, preços e até o meio de pagamento ideal.
Surge um novo paradigma de segurança: Know Your Agent (KYA), que complementa o tradicional Know Your Customer (KYC).
A fidelização se torna dinâmica e preditiva, alimentada por agentes que “entendem” o comportamento do shopper.
4. Confiança, risco e fraude em um mundo mais rápido
Com pagamentos cada vez mais instantâneos, a gestão de risco e fraude se tornou um eixo estratégico.
Ben Coon, da Unit 221B, alertou:
“Concorrentes precisarão colaborar para combater a fraude inteligente alimentada por IA.”
Lições para o mercado:
A confiança deve ser incorporada desde o design da jornada de pagamento e fidelidade.
Prevenção de fraude e identidade sintética são partes essenciais da experiência do cliente.
No ambiente latino-americano, com PIX e open finance, o desafio é combinar agilidade com governança.
5. Finanças embutidas e fidelidade integrada
A fronteira entre pagamento, crédito e fidelidade está desaparecendo.
Segundo o relatório oficial do evento:
“Tokenização e stablecoins mudarão toda a natureza dos stacks tecnológicos futuros.”
Oportunidades:
Programas de fidelidade passam a atuar como camadas de valor dentro dos pagamentos.
Pontos e recompensas tornam-se elementos nativos da jornada de checkout, não etapas isoladas.
No Brasil, isso abre espaço para integrar carteiras digitais, cashback e crédito instantâneo de forma fluida.
6. América Latina: da periferia à vanguarda
Embora o evento seja sediado em Las Vegas, a América Latina ganhou destaque.
“Os painéis abordaram abertamente cripto, stablecoins e blockchain — líderes de finanças tradicionais dividiram o palco com nativos digitais.”
Para o ecossistema latino-americano:
Fluxos internacionais e liquidação em tempo real tornam-se diferencial competitivo.
O PIX virou modelo global de infraestrutura pública eficiente.
Fidelidade e pagamentos devem ser redesenhados para funcionarem de forma global e local ao mesmo tempo.
7. Coopetição e orquestração de ecossistemas
A nova palavra de ordem é orquestração, não competição.
Como reforçou Raj Dhamodharan (Mastercard):
“Convergência não é sobre competir, mas sobre coordenar ecossistemas.”
O que isso significa:
Parcerias entre bancos, fintechs, marcas e redes de pagamento serão mais valiosas do que soluções isoladas.
Dados, interoperabilidade e confiança se tornam ativos compartilhados.
No Brasil, isso aponta para um futuro de alianças estratégicas — bancos, fintechs e varejistas co-criando jornadas de valor.
Conclusão
O Money20/20 USA 2025 consolidou a visão de que pagamentos e fidelidade estão se tornando infraestrutura.
A velocidade e a automação exigem confiança, colaboração e orquestração entre todos os atores.
“O movimento agora não é reagir à tecnologia, e sim liderar o que o dinheiro está se tornando.” — Tracey Davies
Próximos passos para as empresas de varejo e pagamentos no Brasil:
Construir stacks integrados de fidelidade e pagamento em tempo real.
Redesenhar a confiança como diferencial competitivo.
Adotar uma mentalidade de ecossistema: quem orquestra, lidera.



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